sexta-feira, 3 de abril de 2009

Confira a matéria realizada com Zagati para a Revista Kalunga

O sonho de um homem de compartilhar com seus vizinhos a paixão pelo cinema transformou-se em realidade na periferia de São Paulo Acontece na vida real Todos os domingos, chova ou faça sol, os moradores do Jardim Record, Taboão da Serra, município da Grande São Paulo, têm diversão garantida. Numa reprodução tosca do famoso “Cinema Paradiso”, eles têm encontro marcado, religiosamente às 19 horas, na sessão noturna do Mini Cine Tupy. O responsável pelo evento é o cinéfilo José Luiz Zagati, que também opera o projetor adquirido, com muito sacrifício, em uma loja de usados da Rua Santa Ifigênia, reduto de equipamentos eletrônicos da capital paulista. Não é muito diferente a história de Zagati da de milhares de pessoas que se encantam por um hobby, em determinado momento, e a ele se apegam pelo resto da vida. Apaixonado pela Sétima Arte, teve sua vida reproduzida em reportagens nacionais e internacionais e, inclusive, no documentário “Zagati”, ganhador de vários prêmios, entre eles, o Kikito no Festival de Gramado em 2002. Zagati já fez um pouco de tudo na vida. Foi ajudante de pedreiro, borracheiro, catador de papelão e, hoje, trabalha para o governo do Estado de São Paulo como promotor de eventos de cinema nas regiões periféricas e carentes. Nascido em Guariba, região de Ribeirão Preto (SP), há 54 anos, traz da infância uma das mais importantes lembranças de sua vida: “Aos 5 anos minha irmã mais velha me levou a um cinema – havia dois em Guariba. Eu entrei em seu colo pela lateral, pela saída de emergência. Vi de um lado a tela e do outro a luz do projetor e o público sentado na cadeira. Quis entender o que acontecia. Como costumo dizer: ‘Nesse momento, fui atraído pela luz do projetor’”, conta. Pouco depois, o trem trouxe sua família para São Paulo, hospedada, a princípio, na casa de um irmão de seu pai. “Não ficamos muito tempo na casa do meu tio. Meus pais arrumaram trabalho e deram entrada num terreno”, relembra Zagati. Aos poucos, foram construindo a casa na região do Taboão, à época, ainda cheia de mato, com muitas chácaras e olarias. Ele foi matriculado em uma escola local onde estudou até a 3a série. “Fiz o primeiro ano na escola japonesa, destinada aos filhos dos imigrantes, donos das chácaras da redondeza”, enfatiza. No Largo do Taboão da Serra, ponto de encontro dos moradores, havia o Cine Tupy, que fazia Zagati lembrar da cena de Guariba e sonhar estar lá dentro. Aos 10 anos, passou a freqüentar o cinema, sempre aos sábados. Conseguia o dinheiro para pagar a entrada engraxando sapatos e enchendo caixas-d’água para comerciantes. “Todo mundo tinha um poço de água. Eu enchia a caixa-d’água de dois comerciantes portugueses que eram meus fregueses. Era certeza de que teria dinheiro para o cinema porque a caixa-d’água deles sempre esvaziava.” Pouco importava saber o nome do filme em cartaz. “Seja qual fosse, assistia. Chegava lá, olhava os cartazes de divulgação, comprava o ingresso e entrava para a sala. Olhava as poltronas e a tela e ouvia aquela música tocando antes do filme. Tudo era emocionante, mais bonito. Não era como hoje que, para ver o que está passando, é preciso entrar no shopping e procurar”, compara. Além do Tupy, o cinéfilo esteve no Cine Palladium, na Avenida Francisco Morato; e no Cine Goiás, em Pinheiros. “Sempre tive a intenção de colocar um projetor para funcionar, montar uma tela e criar platéia”, diz Zagati.

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